Vou começar por te pedir desculpa mas vou ter de escrever isto aqui. Não tenho culpa que leias o blog, e este blog começou por ser um meio de eu conseguir desabafar, porque de alguma maneira é mais fácil para mim fazê-lo com gente que não me é muito próxima. Por minha culpa deixei que te aproximasses de mim e entrasses na minha vida como se fosses uma das peças mais importantes dela e começamos a ter histórias em comum e por isso, por não querer expôr a vida de mais ninguém para além da minha, deixei o blog iniciar uma contagem decrescente para o seu fim. Mas por não querer que ele morra e seja apenas mais um blog suspenso na blogosfera vou desabafar com quem ainda tiver pachorra para me aturar.
Espero que compreendas que não é nenhum ataque pessoal e que esta história já faz parte do passado mas é a pedra no caminho de eu conseguir desbloquear a escrita e retomar a normalidade. E começou assim…
HEARTBREAKER
Eu lia o blog dele e ele o meu, comentávamos ocasionalmente o que cada um escrevia, mas sinceramente e como tenho um gaydar comprado na loja dos chineses, nunca me apercebi que ele dava para o meu lado, e isso foi o que me apanhou desprevenido.
Deu-se então o fenómeno Facebook e ele lá me encontrou no meio dos outros perfis, mandou mensagem e acabamos por trocar emails, e aí as conversas foram-se tornando um habitué. Comecei a achar estranho tanto interesse porque mesmo tendo um gaydar dos mais económicos, não sou parvo.
Sendo directo como de costume acabei por lhe perguntar pela sua orientação sexual e mesmo tendo ele namorada confessou não ser heterossexual a 100%, afirmando também que não identificava com nenhum dos “rótulos” disponíveis. As conversas foram continuando e os sentimentos foram aparecendo.
Apanhou-me desprevenido e de alguma forma foi entrando na minha vida e eu na dele. As conversas deixaram de ser só no msn e passaram para o telemóvel e foram-se tornando cada vez mais necessárias.
Ele lá acabou por acabar com a namorada, perdoem-me a redundância, e aí com a consciência mais tranquila, deixei-me sucumbir aquilo que já sentia à algum tempo. Nunca demos um nome ao que tivemos, mas foi sem dúvida o mais próximo que tive de um relacionamento sério.
O tempo passou e passou, os sentimentos cresceram e acredito que cheguei a amá-lo como nunca tinha amado ninguém. Mas enquanto a mim os sentimentos me davam força a ele traziam-lhe preocupações. Pois, ainda não o mencionei mas estávamos a uns 300km um do outro e como quase todos devem saber isso não é fácil.
PLEASE DON’T LEAVE ME
Um dia ele fez-me o que a mim me soou a ultimato:
”- Não te consigo ter e ao mesmo tempo não ter e por isso vou-te dar duas hipóteses, ou vens viver comigo para cá ou então…”
Se não foram estas as palavras foi isto que li e sinceramente li-o mais que uma vez pois não quis acreditar que ele me estivesse a pôr numa situação destas. Dar-me a escolher entre ele e a vida que construí ao longo de tanto tempo foi a coisa mais cruel que já me fizeram. Não podia nem queria deixar a minha família de um momento para o outro sem uma explicação lógica nem sem lhes ter dado a conhecer tudo aquilo que sou, nem o queria perder a ele.
Disse-lhe então:
”- Dou-te uma 3ª opção, continuamos como estamos e sempre que pudermos estamos juntos, só temos de nos prometer que faremos todos os possíveis para estarmos juntos.”
Para ele nunca ouve uma 3ª opção e foi então que o meu mundo colapsou.
Nunca me tinha entregue de tal maneira a ninguém e não soube lidar com este fim tão repentino de uma coisa que tinha como certa.
Não vou dizer que entrei em depressão, porque acredito que tenho demasiado respeito por mim mesmo para me deixar chegar a esse ponto, mas tendo em conta que sou daquelas pessoas que não chora à frente de ninguém e que durante um jantar normalíssimo com os meus pais me vieram as lágrimas aos olhos de um momento para o outro, posso garantir que nunca estive num sitio tão escuro como o sitio onde ele me deixou.
Digamos que durante meses fui adiando lidar com os sentimentos que vieram tão depressa tentar deitar-me abaixo e gradualmente fui deixando de pensar com clareza, o sorriso que expressava era cada vez mais aquele que em tempos treinei para apresentar na caixa do supermercado e o único pensamento que me vagueava a mente era “valerei assim tão pouco para ele ter desistido assim de mim?”.
Debati-me com esta questão durante tanto tempo que entrei em paranoia, e tornei-me ainda mais obsessivo do que aquilo que já sou.
Tornei-me ainda mais promíscuo do que aquilo que já sou e sexo de ocasião passou a ser a única coisa que me deixava a mente em branco.
NOBODY KNOWS
Foi então que disse: “-CHEGA!”
Folha em branco, bora reescrever a minha vida.
Deitei as barreiras abaixo e deixei envolver-me nos sentimentos com que ele me deixou. A tristeza, a incerteza, a raiva e por momentos até o ódio absorveram-me por completo.
Deixei de trabalhar, deixei de sair, isolei-me e comecei a combater a escuridão que me envolvia.
O meu quarto passou a ser a minha barreira de segurança.
Pensei que se não me desse a conhecer como me dei a ele não teria de passar por isto outra vez e então deixei de me expôr ao mundo. Sozinho mas sem dor pensei eu.
Mas depressa me apercebi que não era maneira de viver. E por isso posso agradecer à minha irmã que sempre foi a cola que me segurou inteiro. Um exemplo de força e determinação que me mostrou que a vida não se faz sozinho fechado no quarto mas que se faz quando nos entregamos ao mundo.
SO WHAT
E assim retomei a minha vida, voltei a sair e voltei a conhecer pessoas. Voltei a entregar me aos meus amigos mais próximos e deixei de pensar nele, que foi o causador de tanta dor. Deixei de me culpar por um erro que não me cometi. Eu fiz tudo o que pude para que a nossa relação resultasse.
O fraco nesta história foi ele que desistiu ao primeiro contra-tempo.
Voltei a ter vida. Vi a tal luz ao fundo do túnel.
Eu sei que fiz tudo o que podia ter feito e percebi que ninguém tem o direito de me deixar em tal estado.
Voltei a ter a confiança de quem nunca perdeu nada na vida e a quem a vida lhe correu sempre sobre rodas, mas desta feita com mais conhecimento do que aquele que tinha.
Agora sou feliz novamente, perdoei-o e agora até somos amigos.
Continuamos a falar e a partilhar aquilo que achamos que devemos partilhar e até lhe dou conselhos amorosos. E gosto disto. Sinto que finalmente tenho um amigo que compreende parte daquilo que é a minha vida enquanto gay e que não quer mais do que isso. Sempre quis alguém que não tentasse ser mais do que meu amigo e agora tenho-o. Só é pena ele estar longe porque até gostava de sair com ele para algum lado para apreciarmos uns rapazitos jeitosos na maior das descontrações.
RAISE YOUR GLASS
Consegui com isto tudo reforçar o amor e respeito que tenho por mim mesmo e por quem me quer e faz bem.
No final de contas esta história sempre teve um final feliz.